Urgente: Professora grávida é demitida e acusa gestão do IEMA de assédio moral em Matões

Blog Lucas Moura
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 Circula nos grupos de WhatsApp de Matões uma carta aberta de uma professora do IEMA que está grávida e foi demitida pela atual gestão. Na carta, a professora de Sociologia de nome Jéssika Miranda denuncia de forma grave também o crime de assédio moral. O gestor do IEMA se chama, Maurício Santos.

O nosso portal está aberto para mais esclarecimentos por parte da gestão e da professora. Leia abaixo a carta da professora.


Carta aberta aos professores e alunos. 

O sentimento que tenho agora é de segurança, mas antes de chegar até aqui passei pelo processo doloroso de raiva, desprezo, ódio, me senti insegura, pequena, apesar de tudo que pensei e senti nunca me senti inferior em toda a situação, porque eu sei quem eu sou.

Antes de chegar em Matões passei por processos emocionalmente delirantes, questionei quem eu era para mim e para o mundo e então eu cresci, amadureci minha mente, gerei equilíbrio no caos que é viver dentro da nossa sociedade caótica e desequilibrada. Paralelamente, cresci profissionalmente também, talvez até na mesma medida, dessa forma é natural saber quem eu sou para mim, sei também o que eu quero, e o que eu quero é estimular nossa sociedade (através da minha profissão) a melhorar o mundo e a si mesmo, no individual e no profissional, mesmo quando as regras gerais faltarem com sua função social de proteger, assegurar e melhorar a vida social.

Na primeira semana que cheguei em Matões, conheci quem hoje é meu parceiro, na segunda semana conheci o seu amigo também professor. Ele precisou de 30 minutos comigo para me ter e me tratar como uma ameaça, foi quando os assédios começaram. Na escola, na padaria, na casa dele, nas conversas individuais, na sala de aula, com os estudantes, na sala da gestão pedagógica... todos foram os lugares em que seguiram sequencias furtivas de assédio moral. E era assédio moral, pois se trata de alguém com função pedagógica em nosso local de trabalho. Em suas justificativas: “Não sei de qual grupo ela é”; ou, “ela é do grupo do Maycon”; ou, “ela não é confiável”. Poucos dias e muitas ideias sobre quem eu era e sou. Fora as outras críticas feitas aos outros colegas que eu não fiquei sabendo. Como consequência de sua influência no local de trabalho, fui excluída pelos meus pares, e pelos meus gestores. Uma colega profissional do meu parceiro disse a ele na terceira semana: “ela não é essa Coca-Cola toda”. Certamente ela tentou me diminuir mesmo não me conhecendo no pessoal e no profissional. Mas ora, as vezes não é necessário pensar ou refletir sobre quem o outro é, eu até entendo as limitações sociais do ser humano. Um outro colega, este amigo pessoal do agressor, ao ser questionado sobre a visível violência que eu estava sofrendo, opinou: ”eu quero que o circo pegue fogo”. Honestamente, de tudo que vi, ouvi, vivi e senti, acredito agora que este realmente não era meu lugar.

Não há beleza, não há integridade, não há empatia ou sequer humanidade entre os profissionais nesta escola. Foram quatro meses em que trabalhei ali e nunca fui acolhida verdadeiramente por aqueles que dizem ser do “melhor grupo”, o mais humano. O primeiro problema é fazer do espaço escolar um campo de guerra dividido em grupos que divergem sobre o melhor para os estudantes em prol de pensamentos individuais, e disputa de poder. Mas sobre isso eu reconheço, nossa sistema educacional e político esta cheio de gente que não quer fazer educação, mas sim dominar e ter poder, é por isso que eu fui desligada da instituição. 

Meu principal objetivo: fazer educação de qualidade. Ensinar alunas e alunos a pensarem criticamente e manifestarem seus pensamentos. Assim o fiz. Não tenho criticas relativas ao meus profissional ou índole; alunos, pais e professores respeitam quem eu fui para eles, no profissional e também no pessoal. Mas por ter denunciado o assédio moral contra o apoio pedagógico, a gestora pedagógica e o gestor geral, que se silenciaram diante da denúncia, preferiram me diminuir e menosprezar a mim e a comunidade escolar. No dia 16 de Janeiro o gestor geral, através do seu amadorismo, não ligou para mim, mas para meu parceiro e pediu para falar comigo; em suas palavras: “em detrimento da sua situação (minha gestação) e para não prejudicar a vocês (meu parceiro e eu) decidimos pelo menos deixar na instituição o [seu parceiro]”, e assim informando meu desligamento. Essa frase me pegou mais que a tentativa falha e vazia de tentar justificar meu desligado, a qual ele direcionou todo para a gestora pedagógica, mas essa frase...essa fala me abalou. Passei dias pensando que tipo de profissional eu sou para que meu currículo extenso ser menosprezado e fragilmente ligado ao currículo do meu parceiro. E nem somos professores da mesma área. Quando realizei minha inscrição no seletivo da instituição, e no meu contrato de outorga, coloquei meu currículo de socióloga e não de língua portuguesa, formação do meu parceiro. Sou socióloga, mestra em sociologia, tenho habilidades para formação de professores, métodos e práticas. E de tanto pensar, de tanto refletir sobre aquelas palavras, conclui que não sou eu quem não tem qualificação profissional. Não sou eu que mereço adoecer com a incompetência de profissionais que cometem assédio, que não sabe se reportar aos seus pares, que não tem decência ou ética profissional. Nem competência para gestão essas pessoas têm, pelo menos ainda não.  

Decidi seguir em frente, por mim, pelo meu parceiro, e principalmente pela minha filha, toda essa situação agoniante de dúvidas, reflexões, questionamentos e corrida para corrigir os erros dos outros, adoeci, e isso tem afetado minha gestação. Escrever isso me faz lembrar de um momento em que a gestora pedagógica me abraçou no dia dos professores e disse: “você não precisa vir a escola quando estiver doente, o inicio da gestação é complicado, e difícil, entenderemos”. Foi uma tentativa de ter empatia comigo ou de estimular minhas faltas para depois justifica-las para Dap no pedido do meu desligamento? Essa é uma reflexão que gostaria de deixar exclusivamente para ela: verdadeiramente, espero que o mundo não faça com a filha o que você fez comigo e para a minha filha.

Por fim, quero fechar este ciclo com esta carta aberta, e dizer que eu desejo muito que toda essa bagunça, toda essa tragédia seja alimento de reflexão para quem foi desumano com uma gestante, mulher negra, pobre e profissional. Eu desejo muito, muito mesmo, que a gente consiga através da educação construir uma sociedade menos corrupta, e mais crítica para que erros como este não aconteçam nunca mais. 


Atenciosamente,

Professora socióloga Jéssika Miranda.



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